Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas, que já têm a forma do nosso corpo, e esquecer os nossos caminhos, que nos levam sempre aos mesmos lugares. É o tempo da travessia: e, se não ousarmos fazê-la, teremos ficado, para sempre, à margem de nós mesmos.

Fernando Pessoa

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

15 anos

Cresci numa época em que aquelas festas de debutantes, badaladíssimas, caíram em desuso. Hoje, elas estão aí com força total, mas na década de 80, pelo menos na cidade em que vivia, não era comum festa de 15 anos com mocinhas dançando valsa e direito à troca de vestidos 2 ou 3 vezes na noite.
A mim, me foi perguntado: "festa ou viagem?" Viagem, claro. Fui para a óbvia Disneyworld, em Orlando, com um grupo de amigas. A viagem foi maravilhosa e servirá de tema para outro texto.
Bem, na época de meu "debut", minha escola de inglês resolveu promover uma festa de Halloween. E, naquele ano, que beleza, a festa aconteceria exatamente no dia 31 de outubro, dia das bruxas e, sem relação alguma entre as datas, dia do meu aniversário. (Só abrindo um parêntese, meus alunos quando descobriam a data do meu aniversário, falavam sem a menor parcimônia: "Ah, agora entendemos tudo..." Engraçadinhos...)
Pois então: teria uma festa de 15 anos sem ter gastado um único tostão para isso! E o melhor: o menino mais fofo, mais gato, mais lindo estaria lá. Na verdade, ele não era essa coca-cola toda, mas eu era verdadeira e completamente apaixonada por ele. E parecia ser correspondida!
Na tal festa, ficamos juntos o tempo todo, eu e meu sonho de consumo. Conversamos e dançamos. Conversamos mais que dançamos, é verdade. Até que o DJ colocou uma coletânea de músicas lentas. (Na época, música lenta era sinônimo de dançar abraçadinho e, com sorte, até contribuía para rolar um beijinho... Hoje, os beijinhos e beijões rolam com maior facilidade.)
Meu querido me chamou para dançar. Até hoje lembro da música "Glory of Love", do Peter Cetera (adoro!). Na sequência, veio a música "Crazy for You", da Madonna (detesto!). Inventaram uma tal dança da vassoura e uma menina assanhadinha, que em comum comigo só tinha o sonho de consumo, me entregou a vassoura para que ela passasse a dançar com meu príncipe. Eu, que sempre fui supertímida, me senti a própria "Carrie, a Estranha" com uma vassoura na mão, no meio do salão. Tinha a sensação de que todos me olhavam.
Como uma menina mimada, não dei continuidade à brincadeira. Larguei o veículo e fui sentar. Percebi que ninguém estava brincando, só eu e a menina.
Qual não foi a minha surpresa quando olhei para meu "menino dos olhos". A menina assanhadinha tascou-lhe um beijão daqueles! E o pior de tudo: ele correspondeu! Naquele momento, senti meu coração ficar do tamanho de uma ervilha. Ervilha partida!
Decidi ir embora imediatamente. Meus olhos não conseguiam manter-se enxutos. O menino, que por muitos e muitos anos continuou sendo meu sonho de consumo, ainda veio até mim, me pedindo para ficar. Não obteve sucesso na tentativa.
Meu coração estava partido.
Meu aniversário de 15 anos foi o pior que eu poderia ter tido.
Minha primeira desilusão amorosa.
Nesse dia, tive a certeza fatídica: estava tornando-me adulta.

3 comentários:

  1. Muito cruel essa história... Que odinho no ♥...

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  2. Amiga,
    Glory of Love... Nossa, era o hit de curtição de fossa, da dor de cotovelo, dos amores não correspondidos, ou enrustidos. Rsrsrs. Quanto chorei, sozinha, à noite, no meu quarto, com o rosto afundado no travesseiro. Só tira o rosto do travesseiro para voltar a fita e ouvir mais uma vez. Rsrsrs.
    Ah! Estou amando esse seu lado escritora. Inspiradíssima!! Parabéns!!
    Bjs!!

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  3. As desilusões são uma constante em minha vida. Me apaixono tão rãpido como esqueço. Tudo é uma questão de fase, falta-me coragem muitas vezes para concretizar o que vai no meu coração. É melhor assim, fico na minha zona de conforto.

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